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Às ruas contra o golpe

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Às ruas contra o golpe: líder Sem Terra reitera necessidade de reforma política

Por: Cristina Fontenele

Adital

Diante do recente episódio envolvendo a condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para depor na Polícia Federal, movimentos sociais e sindicais manifestam repúdio e devem sair às ruas “contra o golpe”, e em favor dos direitos trabalhistas. Alguns grupos avaliam que o Brasil atravessa um período histórico de grave crise e que é preciso uma profunda reforma política nos país.

Em entrevista à Adital, João Pedro Stédile, membro da Coordenação Nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), explica que a sociedade brasileira vive uma grave crise econômica, social, política e ambiental. O dirigente defende que é preciso criar saídas, que somente serão possíveis quando as classes sociais se aglutinarem, construírem uma unidade em torno de uma proposta, apresentando um projeto para ser apoiado pela maioria da sociedade.

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Para João Pedro Stédile, membro da Coordenação Nacional do MST, a sociedade brasileira vive uma grave crise e é preciso construir uma unidade em torno de uma proposta apoiada pela maioria da sociedade.

“A democracia representativa foi sequestrada pelas empresas, e o povo não reconhece sua vontade política nos eleitos, pois eles são apenas representantes das empresas. Assim, temos, agora, não mais bancadas de programas partidários, mas temos a bancada ruralista, da bala, dos bancos, das empreiteiras, dos transgênicos”, reflete Stédile.

Analisando o governo da presidenta Dilma Rousseff [Partido dos Trabalhadores – PT], o dirigente do MST explica que este precisa “criar vergonha e juízo”, pois será condenado ao ostracismo, se insistir em manter a agenda neoliberal, a reforma da Previdência, os cortes de gastos sociais, a paralisia dos programas de moradia popular, da educação e da reforma agrária. “Continuará até 2018, mas de forma medíocre, sem apoio da maioria da sociedade, e, sobretudo, da base social que o elegeu”. Stédile prevê que o ex-presidente Lula e o PT tenderão a se distanciar do atual governo, como uma necessidade para não avalizarem seus equívocos, e se apresentarem com autonomia para as próximas eleições.

No tocante a cenários futuros, Stédile enfatiza que a classe trabalhadora precisa colocar energia para construir unidade entre todos os setores, debater e propor um projeto alternativo de país, que encaminhe as mudanças estruturais necessárias. O que, segundo ele, será viável somente com a retomada da luta de massas, para que a classe trabalhadora como um todo participe desse esforço. Processo este que ainda será demorado.

Sobre a coerção a Lula para depor na Polícia Federal, no último dia 05 de março, o dirigente entende como um abuso judicial e policial, com o juiz federal Sergio Moro extrapolando completamente suas funções, incorrendo em erros judiciais, segundo os juristas, e atuando claramente apenas contra o PT e a esquerda. “Se ele tivesse um pouco mais de honestidade política, colocaria o processo na direção de uma reforma política, para mudar as regras do jogo”.

Referindo-se aos recursos das empreiteiras recebidos pelos partidos, o líder do MST destaca que, em termos de volume, o Partido Progressista (PP), dos deputados Jair Bolsonaro e Paulo Maluf, foi o que mais recebeu recursos, mais de R$ 200 milhõesE lembra que o PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) recebeu R$ 98 milhões, enquanto o PT obteve R$ 77 milhões para campanhas eleitorais. “E, pior, deste montante ainda teve que repartir e repassar R$ 33 milhões para o PMDB [Partido do Movimento Democrático Brasileiro], que, sendo o partido mais corporativo e negociante deste país, está passando ileso nas ações do sr. Moro. Outros personagens arrolados na [Operação] Lava Jato, que também se beneficiaram, como candidato [à Presidência derrotado] Aécio [Neves, senador pelo PSDB], ou as contribuições que as mesmas empreiteiras fazem para o Instituto Fernando Henrique, não são investigados e muito menos publicizadas no Jornal Nacional [da TV Globo]”, questiona.

Para Stédile, o juiz Sérgio Moro fez uma aliança com a Rede Globo de Televisão, com o claro intuito de criminalizar apenas os dirigentes de algumas empresas e do PT. “Na verdade, a ação do Moro-MPF [Ministério Público Federal]-PF [Polícia Federal]-Globo (que foi a única a saber, no dia anterior da operação [que deteve Lula] e, por isso, fez um Jornal Nacional de meia hora sobre o tema, para preparar a opinião pública e, depois, seus jornalistas publicaram a noticia da operação às 2h da manhã) foi uma tentativa de desmoralizar a figura publica do Lula, afetar seu prestígio nas massas e com isso evitar sua candidatura, em 2018”.

Stédile revela que, para legitimar um projeto neoliberal, precisam destruir a possibilidade da volta de Lula, e assim deixar as massas confusas e sem alternativas. “Nós já temos umas 10 candidaturas da direita postas na rua, nenhuma com viabilidade eleitoral”.

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Segundo Stédile, a coerção contra Lula foi um abuso judicial e policial, com o juiz Sergio Moro extrapolando completamente suas funções.

Mobilização da esquerda

Na visão do dirigente do MST, os últimos episódios ajudaram a dar mais unidade às mobilizações. “A ação da turma Moro-PF-MPF-Globo foi tão grave que provocou uma contradição, e motivou a militância petista e de esquerda a sair às ruas, se rearticularem e lutarem”.

Na agenda dos movimentos, foi prevista uma mobilização para este 08 de março, Dia Internacional da Mulher, intitulada “Mulheres com Lula”. No próximo dia 18 de março, haverá atos em todas as capitais, e no dia 31 cerca de 100 mil trabalhadores e trabalhadoras devem sair às ruas de Brasília.

Os eixos das manifestações mesclam os temas da conjuntura política, como: “contra o golpe”, “fora Cunha” [em referência ao deputado federal e presidente da Câmara, Eduardo Cunha – PMDB – Rio de Janeiro] e pela reforma política. Sobre os direitos da classe trabalhadora, os movimentos se posicionam contra a reforma da Previdência, não ao ajuste fiscal, não aos cortes nos investimentos sociais.

Stédile não acredita em um risco de confronto violento nas mobilizações e diz que a direita fará sua mobilização no domingo, 13 de março, centrada em São Paulo e Rio de Janeiro. “Onde temos uma pequena burguesia reacionária, que não aceita conviver com os pobres e construíres uma sociedade com menos desigualdade social. Ela quer continuar na formula colonial: Casagrande X Senzala”.

cut#LulaValeALuta

Em nota, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) repudia, com veemência, as últimas ações da Operação Lava Jato, na qual o ex-presidente Lula, “principal líder popular da história do país”, foi constrangido a depor coercitivamente pela PF. A entidade diz que o Brasil vive um momento decisivo, em que a democracia está em risco e os direitos fundamentais estão sendo violados.

Veja abaixo o vídeo do presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, em defesa de Lula. Para Freitas, o Brasil viveu um tempo de exclusão e, com a eleição de Lula, em 2003, houve mudanças importantes. “Veio o respeito, inclusão social, a geração de emprego e os trabalhadores sendo protagonistas das suas vidas”.

 Cristina Fontenele
Repórter.
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crisfonte@hotmail.com