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“Queda do PIB em 2016 expõe falácias do golpe e incapacidade de Temer”

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Por Joana Rozowykwiat

O resultado do PIB [Produto Interno Bruto] de 2016 é a pior notícia para o governo até a [delação da] Odebrecht sair. Porque, sob todos os aspectos que você olha, ele aponta não só a falácia do ‘tira a Dilma que a gente resolve a economia’, como a incapacidade do governo de olhar para a economia, para a produção e a circulação de bens e serviços”, disse, em entrevista ao Vermelho.

Em uma tentativa de se esquivar da responsabilidade sobre os péssimos números, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou nesta terça-feira (7), que o resultado negativo é fruto de políticas adotadas nos últimos dois anos.

Na avaliação de Tonelli Vaz, ao contrário do discurso do governo, o PIB de 2016 não deve ser entendido como reflexo do governo Dilma Rousseff e, sim, como resultado da crise articulada pela oposição à presidenta eleita, que paralisou o país e levou ao afastamento da petista. O espelho de um processo de boicote e desestabilização, que findou por afundar a economia.

“Esse é o PIB do golpe. O golpe não se deu só com o impeachment. O golpe começa com toda a articulação econômica, com apoio da mídia, para produzir a crise política. Esse é o PIB da crise, não da Dilma”, disse.

De acordo com ele, os números refletem também o desmonte das medidas que conseguiam diminuir os efeitos da crise internacional no Brasil. “A crise internacional sempre existiu, mas havia antes um conjunto de medidas que minimizavam a internalização desses efeitos, e isso foi sendo desconstruído”, lamentou, citando como exemplo a diminuição do crédito, da renda das famílias e do emprego, instrumentos importantes para enfrentar a recessão.

O assessor técnico da Câmara defende que a estratégia de enfrentamento à crise adotada entre 2008 e 2014 significou resultados positivos para o Brasil. “Quando Lula disse que a crise ia ser um marolinha, muita gente achou que ele era louco. Mas ele fez com que a crise aqui de fato virasse uma marolinha. O Brasil cresceu de 2008 a 2014 – perdendo apenas para Índia e China -, foi um dos poucos que reduziu o desemprego e um dos que menos fez crescer o endividamento público”, destacou.

Em 2016, a situação foi bem outra. Trata-se da primeira vez, desde 1996, que houve retração generalizada em todos os setores – agropecuária, indústria e serviços. E, se houve resultados negativos durante os quatro trimestres do ano passado, a verdade é que eles foram piores nos dois últimos, já sob a gestão Temer.

Segundo os dados do IBGE, a baixa do PIB no primeiro e no segundo trimestres de 2016, quando Dilma ainda ocupava a Presidência, foi de 0,6% e 0,3%, respectivamente. Depois de assumiu provisoriamente o governo em maio, Temer foi efetivado como presidente em agosto. Segundo o IBGE, houve queda de 0,7% do PIB no terceiro trimestre de 2016 e de 0,9% no quarto.

“Se pegarmos o quarto trimestre, que é todo já com Temer, o PIB desse período, na série de preços com ajustes, é o pior quarto trimestre desde 1999, que é um ano de crise. Isso é algo surpreendentemente ruim”, ressaltou Tonelli Vaz.

Segundo ele, os dados do IBGE ajudam a revelar uma realidade desoladora. “O consumo das famílias, por exemplo, está caindo há oito trimestres consecutivos. E o consumo das famílias reflete o desemprego, a queda da renda, a falta de perspectivas. Quando você junta com o dado de que, no ano passado, você perdeu 1,320 milhão de empregos com carteira assinada, isso é um número fantástico. Nos últimos dois anos, perdemos quase 3 milhões de postos de trabalho com carteira de trabalho”, enumerou.

Os números divulgados nesta terça também escancaram a falta de projetos, por parte do governo, que possam melhorar a situação, especialmente em relação ao emprego, analisou Tonelli Vaz. “Ao invés de apontar soluções para isso, [o governo] aponta uma reforma trabalhista que é um desastre, aumenta a precarização, a terceirização, o trabalho temporário. O que vem pela a frente não é um Brasil melhor”, previu.

A retração de todos os setores foi puxada pela queda no consumo das famílias, mas principalmente pela redução dos investimentos das empresas. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), uma medida de investimento, registrou contração de 10,2%. “Então a ideia de que estamos recuperando as expectativas não é verdade”, afirmou o assessor da Câmara.

“É muito fácil convencer as empresas a tirarem o pé do acelerador, que foi o que eles fizeram desde o segundo semestre de 2014, para dizer a verdade. Mas convencer alguém a ser o primeiro a acelerar é um pouco mais difícil. O desconstruir sempre foi mais fácil que o construir”, ponderou.

Embora haja poucos sinais de melhora no cenário, o ministro Henrique Meirelles defendeu, nesta terça, que haverá crescimento em 2017. Para Tonelli, contudo, há uma grande diferença entre não ter resultados negativos – depois de tanto tempo de queda no PIB – e recuperar de fato a economia.

“É claro que o governo pode conseguir zerar o PIB, não ter resultados negativos, porque a base de comparação está tão baixa. Depois que você cai por oito trimestres seguidos, quando para de cair, vai ter quem diga que é algo positivo. Mas, mesmo que o PIB pare de cair, o emprego não se recupera assim”, disse.

A expectativa de crescimento para 2017 é hoje de 0,4%. Tonelli crê em um número ainda menor. “As expectativas continuam muito ruins, pela falta de ação do governo em favor do crescimento”, opinou.

Com a alta capacidade ociosa das empresas, seria preciso crescer mais que o previsto para recuperar as vagas fechadas. “Eu consigo aumentar um pouquinho a produção com os mesmos empregados que eu tenho hoje. Então, mesmo que o PIB deixe de ser esse desastre de 2016, para reverter o desemprego que temos hoje, teria que ter um crescimento um pouco maior do que está sendo anunciado pelas estimativas”, encerrou.

Do Portal Vermelho