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gabriel

Cerrado 35% [1]

Gabriel de Melo Neto[2]

A dimensão da importância do Cerrado surpreende diante da grandeza dos números que indicam a presença de mais de 2.500 espécies de vertebrados, 90 mil de insetos, centenas de plantas em suas ricas e distintas fitofisionomias. Concentra 5% de todas as espécies do planeta e 30% da biodiversidade brasileira. Além de receber o título de “berço das águas”, por ser um gigantesco reservatório natural que diante da posição geográfica abastece as principais bacias hidrográficas do país. No entanto, mesmo em tempos de crise hídrica a destruição do Cerrado segue célere. A manutenção dos atuais índices de degradação indica que em apenas três décadas ocorrerá a maior perda de espécies vegetais da história.

Segundo pesquisa publicada recentemente na revista científica Nature, realizada por pesquisadores de instituições nacionais e internacionais coordenada pelo Instituto Internacional para Sustentabilidade revelam que 46% da vegetação nativa do Cerrado foi totalmente destruída e apenas 20% permanece intocada, porém até 2050, pode perder 34% da área atual, permanecendo apenas 35% do território original. Com a emissão de 8,5 bilhões de toneladas de gás carbônico na atmosfera e a extinção de 1.140 espécies endêmicas de plantas, sendo que 657 já estão em situação altamente crítica. Tratar-se-á da maior extinção identificada no mundo desde o início dos registros oficiais no século XVI.

Os dados da referida pesquisa estão em sintonia com outras dezenas de investigações científicas publicadas ao longo das últimas décadas. Com fartas evidências sobre as consequências catastróficas do modelo de ocupação do Cerrado, pautado de forma hegemônica na lógica da pecuária extensiva, com baixos índices de aproveitamento das áreas de pastagens e monoculturas com uso intensivo de agrotóxicos, combinado com a supressão constante de novas áreas verdes e o uso exacerbado dos mananciais hídricos, para atender principalmente o mercado externo através das commodities – resguardando as proporções – não muito diferente da prática do período colonial.

Será o destino do Cerrado uma contínua contagem regressiva do percentual de área remanescente, com expectadores aguardando a catástrofe final? Ou o reconhecimento legal de Patrimônio Nacional, negado na Constituição Federal, será revisto e uma nova relação pautada de fato na sustentabilidade e respeito a sociobiodiversidade do Cerrado será implementada?

 


[1] Artigo de opinião publicado no “Jornal O Popular” na edição impressa de 12/04/2017. Disponível em:http://www.opopular.com.br/editorias/opiniao/opini%C3%A3o-1.146392/cerrado-35-1.1256664

[2] Geógrafo e Mestre em Geografia pela UFG/Catalão, Doutorando em Geografia pela UFU, professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano (IF Goiano).

Prof. Ms. Gabriel de Melo Neto
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano (IF Goiano) – Campus Avançado Catalão
Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB)
Doutorando em Geografia – Universidade Federal de Uberlândia